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Foto tirada numa rua de Cascais por Ailime |
Da carta de Fernando Pessoa a Mário de Sá Carneiro em 14.03.1915 (Obra Inédita), onde consta a frase inscrita na pintura acima transcrevo um excerto:
«......Em dias da alma como hoje eu sinto bem, em toda a
consciência do meu corpo, que sou a criança triste em quem a vida bateu.
Puseram-me a um canto de onde se ouve brincar. Sinto nas mãos o brinquedo
partido que me deram por uma ironia de lata. Hoje, dia catorze de Marco, às
nove horas e dez da noite, a minha vida sabe a valer isto.
No jardim que entrevejo pelas janelas caladas do meu sequestro, atiraram
com todos os balouços para cima dos ramos de onde pendem; estão enrolados muito
alto, e assim nem a ideia de mim fugido pode, na minha imaginação, ter balouços
para esquecer a hora.
Pouco mais ou menos isto, mas sem estilo, é o meu estado de alma neste
momento. Como à veladora do «Marinheiro» ardem-me os olhos, de ter pensado em
chorar. Dói-me a vida aos poucos, a goles, por interstícios. Tudo isto está
impresso em tipo muito pequeno num livro com a brochura a descoser-se.....».
Abraços.
Ailime